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UM, DOIS E MUITOS | O corpo que lê ou o infinito é o mais recente momento da obra plástica e participativa UM, DOIS E MUITOS, de Marta Wengorovius, que, para além de obra visual, é um método através do qual a artista explora questões que nascem da intuição e da génese do movimento.

Para melhor compreensão destes conceitos, apresentamos o Glossário escrito pela artista.

Glossário: 

UM, DOIS E MUITOS
Código de cor UM: verde; DOIS: encarnado; MUITOS: lilás

Método UM, DOIS E MUITOS
Ferramenta de aprendizagem baseada na evolução/conhecimento de si e da sua disciplina de estudo, cruzando-se e cruzando-as com outras pessoas e disciplinas. UM, DOIS e MUITOS é uma obra plástica onde proponho estarmos atentos à Singularidade/Intimidade (o UM), à Cumplicidade (o DOIS), e à Comunidade (o MUITOS) e suas acentuações em constante movimento. Um olhar redondo e cruzado, a que chamo Conhecimento Cubista, e que revela a nossa tridimensionalmente e a do “objeto” de atenção, bem como o que este reflete em nós, no nosso crescimento, no nosso amadurecer. UDM é uma ferramenta para criar vazio: criando espaço, limpando, digerindo.

Método:
A implicação de cada UM — uma partilha de crescimento.
1. Monólogo: O processo inicia-se sempre no UM e na sua reflexão, no seu sentir, na intimidade. A ênfase na Primeira conversa.
2. Diálogo: Em seguida começa o diálogo, o DOIS – passar a barreira pessoal e disciplinar, entrar na perspetiva do Conhecimento Cubista e tridimensional. A DOIS desenha-se a Aula — a performance: uma outra intimidade, alinhavar, coser. Desenha-se o que levará o objeto a surgir na performance, considerando o que acontece no tempo e no espaço objeto.
3. Acontecimento: No terceiro momento, dá-se o acontecimento, a ação. Na performance surge o objeto. Ao que se juntou a DOIS, no Diálogo, acresce o espaço, o tempo, os outros, o grupo e o fazer acontecer, a alteração, a participação da e na realidade. O conhecimento, a nova aprendizagem, dá-se agora no Estar de todos estes elementos juntos no que entre eles contagiam, despertam e motivam. 

UDM – Escola Nómada
É uma obra onde, juntos e de uma forma interdisciplinar, estudamos a Singularidade/Intimidade (o UM), a Paridade/Cumplicidade (o DOIS), e a Comunidade (o MUITOS) e suas acentuações em constante movimento. Um olhar redondo e cruzado que revela a tridimensionalidade do “objeto” de estudo e o que este reflete em nós, no nosso sentir, no nosso crescimento, no nosso amadurecer. As Aulas Debaixo das Árvores partem de dois ramos, de dois caminhos possíveis: da exploração em campo do Método UDM ou da pergunta: “O que ensinarias aos outros neste momento da tua vida?”

Cadernos Nómadas / A Escola hoje é um Caderno Nómada
Instruções dos Cadernos:
O UM é quando esquecemos a balança, o engenho, o desenho das coisas, e ficamos somente nelas. Então o UM é encontro, quietude e infinito. No UM não procuramos o como funcionam as coisas, antes estamos, descobrimos o presente. Nada vai de um lado para o outro. É: uma coisa é. Estou atenta/o ao endémico, ao singular, à intimidade entre todas as coisas vivas. Como nasce aquele UM? E o meu? Ou o que pesquiso eu na minha área de conhecimento que me mostra o UM? O que sei/sinto eu desse UM? Que desenho faço nesse cruzamento?
O DOIS é o mecanismo, a geometria, é o como a coisa se faz. A inquietude, a procura do outro lado da outra coisa. A cumplicidade. Estou atenta/o à cumplicidade entre todas as coisas vivas. Como nasce o DOIS? Que conheço destes pares: Eros e Filia, Respirar: Inspirar/Expirar, Terra/Céu, Consciente/Inconsciente… Que posso pesquisar na minha área de conhecimento que me mostre o DOIS? O que sabemos/sentimos nós desse DOIS? Que desenho faço desse cruzamento entre todos os conhecimentos e entre o conhecimento em si e a vida em si?
O MUITOS (a comunidade) foi um desenho interrompido no mundo inteiro. Este corte no MUITOS surge para que o UM (o singular, a intimidade de si) e o DOIS (a cumplicidade) sejam revistos?
Juntarmo-nos para criar visualmente é uma forma de criar espaço, ar, limpar a Terra: pressupõe criar recriando-nos e produzir menos Coisas.
Conversa entre Palavras, Corpos e Cadernos.

Famílias Utópicas
Vivendo naquilo que acredito entre famílias e utopias. Ser(mos) no meio de tudo, saudades de não ser(mos) especial(ais), de ser(mos) mais um, com os outros, ser(mos) inteiro(s), ser-se íntimo de si — ser-se um lugar no mundo, com os outros. As Famílias Utópicas desenham-se em cada momento, bando, cardume… formando-se em cada viagem.

Biblioteca UM, DOIS E MUITOS
Esta obra é uma biblioteca de 60 livros que se apresenta como uma bússola de reflexão sobre o Método UDM. Vinte pessoas foram convidadas a escolher três livros: um relativo ao UM, outro relativo ao DOIS e um outro relativo ao MUITOS. Instrução: A Cabana de Leitura é para ser usada por uma pessoa de cada vez. Os livros podem ser lidos na cabana ou requisitados junto da entidade que acolhe o projeto. A partilha desta biblioteca itinerante cria uma comunidade composta pelas pessoas que escreveram os livros, pelas que os escolheram e as que os lerão onde esta biblioteca passar.

Conhecimento Cubista
Uma coisa só se vê quando se dá a ver em todos os seus lados. Há algum tempo que venho a desenvolver este olhar e intuição de que o verdadeiro conhecimento é cubista. Qualquer coisa que se dê a conhecer ganha tridimensão ao juntarmos os olhares do pensamento interdisciplinar. E se entendermos que dentro do conhecimento há o infinito. Vivemos um tempo de pós-especialização do conhecimento. Durante séculos partimos a realidade em diferentes, e cada vez mais, pequenos pedaços de conhecimento. Estamos então aptos, mais do que nunca, para juntar estas diversas perspetivas, e, entre estas, abrir novas e ver aquilo a que chamo a tridimensionalidade do conhecimento — o revelar do objeto visto de todos os lados, tal como Picasso e Braque representaram a Natureza morta na pintura andando com o olhar à roda da mesa. O Conhecimento é Afeto Por… O Conhecimento Cubista é uma partilha de afetos. O Conhecimento Cubista, ao transformar-se em obra, introduz nela o infinito.

As Aulas Debaixo das Árvores
A proposta de nos encaminharmos para Debaixo das Árvores para a partilha de conhecimento começou em 2016, na Serra da Arrábida. Adveio de observar: 1) A dificuldade que cada vez mais temos de escutar os outros, o excesso de ruído, a necessidade de criar um tempo e um espaço com mais qualidade para dizer e para escutar; 2) a riqueza da sala de Aula ser o espaço orgânico. Tudo isto se liga com a ideia da atenção. A primeira Aula que fizemos foi com a Claire Nancy. A Claire falou sobre Medeia durante oito horas e realmente nós absorvemos. E percebi que as árvores também ajudavam a absorver qualquer coisa do que existia a mais, trazendo um silêncio natural, vivo. Percebi que esse silêncio é urgente para conseguirmos estar de novo disponíveis.

Sensibilidade, Afeto, Complexidade e Digestão
As minhas 4 palavras para a criação de infinito. Tenho a intuição de que estas palavras são os pontos de apoio para redesenhar o presente, inventar o futuro e possibilitar o toque do infinito. Vejo-as como obra de arte no desenho que elas juntas provocam.

  • Sensibilidade | Recuperar o sentir – “A capacidade de sentir é bela”, disse Sister Corita Kent, perguntando-se porque apreciamos e expressamos tantas vezes agrado quando alguém pensa bem, e se não o deveríamos fazer também mais frequentemente sobre quem sente bem, valorizando assim a capacidade de sentir. Sentir é um movimento do corpo face ao mundo. O nariz aproxima-se do que quer cheirar, o corpo curva-se para ver mais perto, a cabeça inclina-se aproximando o ouvido para a escuta… captando luz e energia a partir do que e de quem nos rodeia. Proponho que nos assumamos cada vez mais não só como pensadores, mas também como “sentidores”.
  • Afeto | Relembrar o afeto – O afeto na aproximação dos mundos: vegetal, animal, mineral; relembrar que nós somos natureza. E nesta consciência estar atentos à criação de afeto. O conhecimento é afetivo, eu posso conhecer no sentir: o afeto pela palavra, pelo som, pelas temperaturas, pelo nosso próprio UM, pela alma, pela presença do infinito, o afeto pelos outros, o afeto… O afeto é à próxima pista para uma re-evolução.
  • Complexidade | Nada é uma coisa só – O Alfredo (Cunhal Sendim) uma vez explicou-me: as primeiras plantas eram mais simples; a pouco e pouco, ao longo do tempo, foram “enriquecendo” – as plantas mais complexas seriam mais ricas. Isso permitiu-me ter consciência da beleza da complexidade e da sua riqueza. Tudo é uma coisa só, rica e complexa. E nada é uma coisa só. O método UDM, na sua interdisciplinaridade, na sua criação de atenção às diferentes formas de criar afeto, nasce desta consciência.
  • Digestão | Estamos a fazer com a cultura o que fizemos nestes últimos tempos com a alimentação. Centramo-nos na produção. Esquecemos, por vezes, a qualidade do que nos alimenta e de como digerir aquilo que nos alimenta. Criando problemas de digestão. O mesmo se passa com a oferta cultural: não basta produzir, é preciso possibilitar a digestão. Quando desenhei esta ferramenta UDM, o que fiz foi conscientemente desenhar um método de digestão. Não trazer mais um produto, mas uma forma de olhar.
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