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Submitted by NUNO.CARVALHO@EDP.PT on
Uma reinterpretação do Painel do Mercado do Povo, também conhecido como Mural do 10 de Junho

48 artistas, 48 anos de liberdade é o título do mural criado no dia 10 de junho de 2022. Trata-se de uma intervenção coletiva que reinterpreta o Painel do Mercado do Povo organizado pelo Movimento Democrático dos Artistas Plásticos e realizado por 48 artistas a 10 de junho de 1974, na Galeria de Arte Moderna de Belém, destruído por um incêndio em 1981. Enquanto em 1974 se celebrava o fim de 48 anos de ditadura, em 2022 comemoramos 48 anos de democracia. A presente obra (24 metros de comprimento e 3 metros de altura) contou também com a participação de 48 artistas: alguns destes estiveram envolvidos na criação da obra original; os restantes são artistas de diferentes idades e linguagens revelados na cena artística portuguesa ao longo das últimas décadas.

48 artistas, 48 anos de liberdade está patente neste local até 10 de junho de 2024, testemunhando a riqueza, diversidade, complexidade e potencialidades da nova sociedade.

mural artistas portugueses

Ana Aragão (n. 1984)

48 anos de ditadura vs. 48 anos de vida democrática – espelho temporal fundamental e simbolicamente assinalado.
A relatividade do tempo, há muito provada e continuamente verificada na prática, coloca-nos perante a questão: Quanto tempo anula o tempo? E interrogamo-nos: haverá alguma medida de tempo que anule o próprio tempo? Ou ainda, no limite: existirá algum grau de compatibilidade entre tempo e liberdade?
Celebremos a Democracia a 48 mãos, reiterando que esta é precisamente o contrário de um muro; é, antes, um mural circular com múltiplas janelas abertas.
Quebremos a maldição dos espelhos: a vida democrática só funciona se nos revirmos nela: metafórica e, nesta peça, literalmente.

Ana Pérez-Quiroga (n. 1960)

“¡NI UNA MENOS!” é um slogan político contra a violência sobre as mulheres. Contra o feminicídio, a misoginia, a discriminação de género, a violência sexual e a violência doméstica. Este grito de alerta, lançado pela primeira vez no dia 3 de junho de 2015 em manifestações do movimento feminista na Argentina, estendeu-se à América Latina e ao resto do mundo.
Ao pintar esta frase num mural que comemora a Liberdade, o meu propósito é dar visibilidade a esta luta, para que juntes possamos caminhar rumo a uma sociedade justa e igualitária.

Carlos Stock (n. 1993)

A concepção deste painel foi trabalhada em duas camadas. A primeira contou com a participação de diversas pessoas que junto dele circularam e que, através de tags, throw ups ou frases, tiveram a liberdade de expressar o significado que aquele momento teve para cada uma delas, numa acção que espelha o título desta peça conjunta: 48 artistas, 48 anos de liberdade. Sob esta primeira camada, uma segunda se abre à exploração através de vários rasgões, qual presente envolvido em papel de embrulho pleno de símbolos e dedicatórias.
Num primeiro momento, os rasgões dão forma ao número 25, sobre um fundo colorido e repleto de texturas. Este 25 de Abril celebrado num outro dia tão especial, 10 de Junho, permite-nos vislumbrar todo um mundo de cores; porém, só nos é dado ver uma nesga de todos os matizes do presente por abrir.

David Evans (n. 1945)
 

No 10 de Junho de 1974 a Guerra Colonial não terminara ainda e, a par da euforia da libertação e transformação social na Metrópole, contingentes de soldados portugueses continuavam a partir para África. No mural dessa altura, foi minha intenção chamar a atenção para a necessidade de se pôr fim a essa situação dolorosa e incongruente. Embora seja evidente que a Revolução de 25 de Abril nos trouxe a Liberdade que todos desejávamos, continua a haver desigualdades sociais gritantes apesar de 48 anos de lutas e sacrifícios, e a conjuntura internacional é infinitamente mais grave do que em 1974, quando a Guerra do Vietname continuava a ceifar vidas. A decisão de utilizar a mesma imagem de então pretende precisamente chamar de novo a atenção para as diversas guerras espalhadas pelo mundo, desde o Afeganistão à Eritreia, Iémen, Palestina, Síria, Ucrânia, etc., etc. São um flagelo que nos afecta indirectamente, é certo, mas um claro sintoma de que os recursos do mundo estão distribuídos de forma manifestamente desigual.

Eurico Gonçalves (1932–2022)

Sem premeditação, a pintura gestual de Eurico Gonçalves gera signos espontâneos, como cruzes, círculos e outros grafismos impulsivos. Se na fase figurativa dos anos 1950 o “disco” evocava o seio, o ventre materno, o sol, a lua, a bola de brincar, a partir de 1967 este ressurge como forma arquetípica da harmonia e plenitude na série intitulada Estou Vivo e Escrevo Sol, que o pintor irá desenvolver até 1973 em homenagem ao poeta António Ramos Rosa. O “disco” contrapõe-se ao gesto impulsivo e automático, é escrita livre à escala do braço e do corpo do pintor. Os primeiros quadros são de execução lenta e formas planas e bem definidas, mas na pintura gestual a execução é rápida, com formas menos definidas ou mais fluidas. Por via da improvisação, esta pintura de sinais nasce do gestualismo.
Por Dalila d’Alte Rodrigues

Fernanda Fragateiro (n. 1962)

Escrever uma data numa parede é contar uma história. Mais do que a simples referência ao dia em que se deu a Revolução de Abril – o acontecimento mais importante que ocorreu em Portugal no século XX –, o registar desta data traz consigo uma coleção de factos, acontecimentos e memórias. Esta pintura mural toma assim a forma de um “arquivo aberto” que se descerra e ativa de cada vez que alguém procura saber o que aconteceu naquele dia. Que se abre a uma conversa. Porque é isso que a arte faz.

Este trabalho é também uma óbvia referência ao artista On Kawara e à sua longa série de pinturas "Today series", cujas telas consistem no registo da data em que as pinturas foram executadas.

Filipa Bossuet (n. 1998)

O movimento de cada pincelada imprime reivindicação, tornando-se também o momento de criação de uma obra por si só, quando a reflexão se inicia: “Só vais pintar de preto?”, “É só isto?”, “Vais acrescentar mais camadas ou escrever alguma coisa?”.
Qualquer pessoa que se vê (?) refletida na pintura é, de alguma forma, parte da obra.
Pintei o quadrado de preto. Pintei-o completamente de preto, com todas as analogias que podem existir em torno do ato de dizer “Pintei o quadrado de preto”, da ação de pintar o quadrado de preto e ver o quadrado pintado. Trata-se de uma obra que fala de Presença e Ausência. A presença que se mantém incontornável, pluriversal e única, e o “princípio de ausência, no qual algo que existe é tornado ausente”, como refere Fanon.

Sueli Carneiro, uma intelectual brasileira, convidada para o podcast Mano a Mano do cantor Mano Brown, diz a certo momento: “Para nós, o luto é verbo.”

Lima Carvalho (n. 1940)

Neste mural foi-me indicado um espaço igual ao de todos os outros colegas, com a configuração de um retângulo cujas dimensões e posicionamento sugerem um sentido vertical. Este meu espaço fica situado no extremo inferior da fiada de baixo, do lado direito de quem o olha de frente. Levando já uma ideia do que queria fazer, iniciei o esboço desenhando na zona inferior do retângulo os traços de uma figura de mulher, um pouco inclinada, sugerindo um movimento ascendente. Desenhei apenas a cabeça e a parte superior do corpo, até ao nascer do ombro, deixando uma grande área livre que cobri de azul atmosférico no sentido vertical. Também procurei que este rosto-cabeça ficasse voltado para cima, com o cabelo solto esvoaçando, transfigurando-se em penas de ave, como se fosse uma grande asa. 
A minha intenção neste esboço feito a tinta preta permitiu-me, então, acentuar na figura um rosto sereno de mulher e dar movimento aos cabelos-penas. Julgo que, assim, se pode permitir uma interpretação de liberdade ligada a essa mulher, procurando expressar o seu desejo de voar, não a grande altitude, mas sugerindo proximidade com o mundo que se situa abaixo do limite de azul cerúleo e cobalto que cobre quase todo o espaço.

Manicómio

“Não és bipolar?” 
“Não sou uma folha A4.” 
Estes trabalhos – uma pergunta e uma afirmação – procuram interrogar a liberdade conquistada no pós-25 de abril.
A primeira aborda não apenas a saúde mental, mas a bipolaridade do nosso dia a dia, o que foi conquistado, o que falta conquistar... Será que conquistámos?
A segunda é um grito nascido do nosso 25 de abril. Dizemos “nosso” porque nos une na desmistificação da doença mental, no combate ao estigma imposto por rótulos, na luta contra um mercado que nos mete em “caixinhas” para seu conforto. “Não sou uma folha A4” quer quebrar o olhar preconceituoso da sociedade e exigir dignidade.

Manuel Botelho (n. 1950)

Para o painel 48 artistas, 48 anos de liberdade selecionei um fragmento do cartoon de João Abel Manta, “1.º de Maio de 1974”. Foi um dia mágico, irrepetível, de unidade e celebração.  
A idade avançada e a fragilidade física de João Abel Manta impediram-no de participar nesta iniciativa. Achei imperioso fazê-lo regressar pela minha mão. 
Hoje, relembro o otimismo do momento histórico que então vivíamos, sem jamais esquecer que a luta pelos valores de abril não terminou; conquistámos muita coisa, mas há muito mais a conquistar.

Sérgio Pombo (1947–2022)

A palavra "viva", a vermelho, é uma exaltação anímica, o motor de toda a atividade humana. Sintetiza a força necessária para superar os obstáculos, mas é também um símbolo de alegria e saudação.
O número "4" refere-se às décadas passadas, e tanto pode ser monstro, como elemento brilhante, prateado.
As cores são as de Portugal: terra, sol, mar e campo. Há diversos elementos: um cravo, um casal, a Ponte 25 de Abril, Lisboa.
A palavra "liberdade" – a branco, cor que simboliza a Paz – é o elemento mais importante, pois só é possível quando estão satisfeitas as mais necessidades básicas. 
É um elemento de ordem que emerge do caos, e o tranquiliza.
Por Alexandre de São Marcos

Tamara Alves (n. 1983)

We are still here retrata um símbolo de resistência e perseverança. Uma figura feminina segura um cravo próximo do rosto, evocando a resiliência do povo, relembrando que continuamos presentes e dispostos a lutar. Através dos seus olhos, os tempos podem ter mudado, mas a essência da nossa luta pela liberdade permanece inalterada. A nossa busca pela liberdade é constante, adaptando-se ao nosso coração e ao contexto em que vivemos.
Este mural procura honrar a força e a determinação na luta pela liberdade.

Teresa Magalhães (n. 1944)

A Minha Pintura É Um Jogo entre a Bandeira Portuguesa, o Céu, e o Sol!
As Letras São Um Profundo Desejo: Viva a Vida Bela!

Artistas: ±MaisMenos±, Alice Geirinhas, Ana Aragão, Ana Pérez-Quiroga, Ana Vidigal , Ângela Ferreira, António Alves, Blac Dwelle, Borderlovers (Pedro Amaral), Carlos No, Carlos Stock, David Evans, Diogo Carvalho, Emília Nadal, Eurico Gonçalves, Fernanda Fragateiro, Fidel Évora, Filipa Bossuet, Francisco Vidal, Gabriel Abrantes, Guilherme Parente, Joana Vasconcelos, José Aurélio, Lima Carvalho, Manicómio, Manuel Botelho, Manuel João Vieira, Maria Imaginário, Mariana Gomes, Moami31, Noah Zagalo, Obey SKTR, Onun Trigueiros, Pedro Cabrita Reis, Pedro Portugal, Petra Preta, Rappepa, Sara & André, Sepher Awk, Sérgio Pombo, Susana Gaudêncio, Tamara Alves, Teresa Dias Coelho, Teresa Magalhães, Vhils, Xana

Programação: João Pinharanda
Curadoria: João Pinharanda (maat), Alexandre Farto, António Brito Guterres e Carla Cardoso
Organização: maat, Iminente e Underdogs
Gestão de projeto: Adriane Kampff, Bárbara Serôdio e Fernando Ribeiro (maat); Juliana Almeida (Underdogs)
Coordenação da produção audiovisual: Nuno Fernandes Paula (maat); Paulo Correia e Silvia Rebelo (Iminente)
Montagem: Ana Grebler, Francisco Crato, Henrique Biatto, Lívia Travassos, Martinho Fernandes e Vasco Lima; Andaluga, Jopinto e Versátil Partilha
Montagem audiovisual: Iminente e Versátil Partilha
Comunicação: Catarina Seixas, Elisabete Sá, Jule Kurbjeweit, Leonor Carrilho, Mariana Líbano Monteiro e Matilde Raposo
Coordenação editorial: Nuno Ferreira de Carvalho
Design gráfico: Beatriz Severes e Lisa H. Moura (maat)
Revisão e tradução: Caligrama
Produção gráfica: Logotexto e L2 Spirit
Seguros: Innovarisk

Grupo de crianças: Edite Lurdes Dias, Emma Isabel Varela Évora, Jaime Manta Botelho Puga Ferreira, Olívia Sousa de Almeida Lima e Stella Sousa de Almeida Lima
Agradecimentos: Silvina Pinto (Jopinto), Olga Vaqueiro (Y-Hello), Raquel Eleutério, Miguel Condeça, Antonia Silva, Mara Lopes, Filipa Vicente e Maria João Guardão; equipa de montagem Versátil Partilha, equipa de segurança 2045, equipa de limpeza ISS

Apoios
Comissão Comemorativa dos 50 Anos do 25 de Abril
EGEAC

Patrocínios
Fundação PLMJ
Innovarisk

Com o Alto Patrocínio da Presidência da República

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