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Um prémio fundamental para uma nova carreira artística

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O que dizem os premiados sobre o Prémio Novos Artistas Fundação EDP

Por Luísa Soares de Oliveira

 

“Para mim, foi muito importante. Eu vinha do contexto universitário. Não conhecia ninguém fora da escola, e de repente vejo-me a expor em Serralves. Eu, expor em Serralves! Foi mesmo o começo da minha carreira. Nesse ano, o júri era internacional e incluía, por exemplo, Adriano Pedrosa e Marta Guzman, que ia a ser a curadora da Manifesta San Sebastian de 2005, e que me convidou a mim e à Maria Lusitano para participarmos nela. Foi o grande momento da apresentação do meu trabalho a nível internacional. A galerista Elba Benitez foi, e convidou-me para trabalhar com ela. e fui trabalhar para com ela. A Cecilia Alemani também visitou a exposição, e daí resultou um convite para ir a Nova Iorque. Tudo isso aconteceu comigo, por causa do prémio.

 

É preciso saber aproveitar as oportunidades, entregar-se, mas também usar bem o prémio para o que vem a seguir. No meu caso, serviu para me mudar para os Países Baixos. Não foi só a minha carreira nacional que aqui começou, foi também a internacional.” Estas palavras são de Carlos Bunga, vencedor do Prémio Novos Artistas Fundação EDP de 2003, e revelam bem a importância que ele adquiriu no contexto artístico português.

 

Carlos Bunga
 

Muito antes de terminarem o curso superior de artes plásticas, qualquer novo artista já está ao corrente das oportunidades que os prémios artísticos destinados à sua faixa etária lhe podem proporcionar.

 

Neste contexto, o Prémio Novos Artistas Fundação EDP assume uma importância especial. Desde 2000, ano da sua fundação, que premiou 13 artistas e uma dupla (João Maria Gusmão e Pedro Paiva, entretanto desfeita). Neste rol, o facto que mais se destaca é a qualidade dos premiados. Todos eles, sem excepção, continuam hoje a desenvolver uma obra coerente, exigente, e que, mesmo que o prémio não tenha tido essa função, possui hoje visibilidade dentro e fora de fronteiras. E esta uniformidade só pode ser atribuída a um factor: a qualidade do júri que seleccionou ou premiou cada um.

 

Neste contexto, o Prémio Novos Artistas Fundação EDP assume uma importância especial. Desde 2000, ano da sua fundação, que premiou 13 artistas e uma dupla (João Maria Gusmão e Pedro Paiva, entretanto desfeita). Neste rol, o facto que mais se destaca é a qualidade dos premiados. Todos eles, sem excepção, continuam hoje a desenvolver uma obra coerente, exigente, e que, mesmo que o prémio não tenha tido essa função, possui hoje visibilidade dentro e fora de fronteiras. E esta uniformidade só pode ser atribuída a um factor: a qualidade do júri que seleccionou ou premiou cada um.

 

O prémio conheceu várias modalidades até chegar ao seu formato actual. Até 2005, teve uma periodicidade anual, passando depois a ser atribuído de dois em dois anos. No seu início as candidaturas eram feitas por convite, sendo que hoje são livres – as últimas edições receberam centenas e centenas de propostas, das quais se selecciona um número máximo de nove. Em tempos, receber o prémio correspondia a realizar uma exposição individual produzida pela Fundação EDP; hoje, essa obrigação desapareceu. Finalmente, os júris também não são os mesmos de edição para edição, procurando-se com isto responder com as suas sensibilidades pessoais às mudanças das práticas artísticas dos mais novos, e às diferentes respostas plásticas que cada um deles vai procurando dar ao mundo em que vivemos.

 

Falámos com alguns dos contemplados para tentar saber, mesmo por vezes a muitos anos de distância, o que tinha representado ganhar aquele que é o mais importante prémio para novos artistas em Portugal. Joana Vasconcelos foi a primeira galardoada, em 2000, e lembrava-se perfeitamente como tinha gastado o valor que recebeu. “Comprei uma câmara de vídeo e fiz um filme, www.fatimashop, que esteve numa individual na Galeria 111”, afirmou. O filme era um roadmovie até Fátima pela EN1 num motociclo Piaggio com atrelado, e que no fundo constituía uma crítica paródica sobre a convivência entre “espiritualidade religiosa e materialismo consumista. Também fiz uma coisa que poucas pessoas se lembram o que era, um CD-ROM”, acrescentou.

 

Mais além disso, Joana Vasconcelos menciona as oportunidades que o Prémio lhe trouxe: “Foi a possibilidade de fazer a minha primeira exposição individual, na Carpintaria, um espaço que já não existe e que ficava onde hoje é o MAAT. Chamava-se Medley, e mostrei aí peças que eu tinha no atelier – e o primeiro catálogo! Por isso sim, o Prémio foi muito importante e desencadeou muitas coisas na minha obra.”

 

Um outro artista que menciona a concretização de um projecto específico graças ao Prémio é Gabriel Abrantes, que o recebeu em 2009. A obra que fez para a exposição colectiva consistia numa instalação vídeo, Too many daddies, mommies and babies, que era projectada em três locais distintos de Lisboa: Lumiar Cité, a galeria Zé dos Bois e a própria EDP. Em cada local, via-se a cenografia, que ele próprio tinha construído, e o vídeo. O público podia visitar a exposição em qualquer dos locais. Diz-nos: “Usei o dinheiro do prémio para fazer o filme seguinte que foi filmado no Brasil. Chamava-se A History of Mutual Respect, em co-autoria com o Daniel Schmidt, e ganhou o prémio de Best Short Film no Festival de Cinema de Locarno. Portanto o dinheiro foi reinvestido na minha obra.” Mas Gabriel Abrantes salienta outros pontos muito positivos que daí decorreram: “reforçou os meus laços com os curadores da colectiva – Delfim Sardo, Nuno Crespo e João Pinharanda, mas também com José Manuel dos Santos, que tinha feito parte do júri; bem como com a amizade com alguns dos artistas que também tinham sido seleccionados. Até à altura, só tinha feito 3 exposições individuais, todas na Galeria 111.”

 

Vasco Araújo, o premiado de 2002 também destaca a exposição que fez: “O prémio foi talvez uma das primeiras revelações e reconhecimento do meu trabalho. Foi também a primeira oportunidade de fazer uma exposição individual numa instituição em Portugal. Pude realizar com todos os meios uma instalação de grande escala, o que me proporcionou muita visibilidade.” Na altura, teve de descontar uma parcela do prémio para as finanças, um problema se resolveu em edições futuras; com o que sobrou, investiu noutros trabalhos.

 

Vasco Araújo

 

Em 2008, já com o formato do concurso adoptado, André Romão recebeu o prémio e explica-nos porque o considerou um momento grande na sua carreira: “A importância foi gigantesca. Eu era muito novo na altura, e foi a primeira vez que trabalhei com instituições, com curadores, com orçamentos… Houve uma legitimação do meu trabalho que foi muito importante. Foi um momento único. Acabei por só fazer a minha primeira exposição individual em 2010. E usei o dinheiro para sobreviver. Para continuar a ser artista sem ter de recorrer a um emprego. Era muito importante para a nossa geração.” De facto, a partir desta altura, há premiados que mencionam a liberdade de não ter de ter um emprego alimentar graças ao prémio.

 

Claire de Santa Coloma, que o recebeu em 2017, menciona também este facto: “O prémio significou um grande reconhecimento em Portugal pelas instituições e os coleccionadores portugueses. Até aí, os meus galeristas conseguiam sobretudo vender as minhas peças para colecções internacionais. Fui reconhecida como artista portuguesa! Nesse ano, fiz bastantes viagens e usei também o dinheiro para coisas pessoais. Para mim, o dinheiro é um meio para conseguir viver da arte, e não ter de arranjar um emprego que, no fundo, é uma perda de tempo. E foi depois a primeira exposição institucional que fiz. Em que tive dinheiro para produção, essas coisas.”

 

Adriana Proganó (premiada em 2022) também menciona este facto, dizendo que, como artista, nunca sabe se vai receber 1000 euros daqui a um mês ou seis meses. “Deu-me muita visibilidade. De repente já toda a gente sabia quem eu era! Mas na altura já trabalhava com uma galeria e vendia bem o meu trabalho. Foi mesmo a visibilidade.”

 

Adriana

 

Visibilidade é uma palavra também usada por Diana Policarpo, que foi a vencedora em 2019, que acrescentou que passou a ter a possibilidade de se focar exclusivamente nos seus projectos. “Coincidiu com a mudança de atelier de Londres para Lisboa, o que me permitiu trabalhar durante um ano no aprofundamento da investigação e na concretização de um projecto artístico. O valor do premio na verdade permite aos artistas trabalhar um ano ou, no meu caso, pagar estudos”, concluiu.

 

Luísa Soares de Oliveira é crítica de artes plásticas e escreve de acordo com antiga ortografia

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